PUBLICADO EM DEZEMBRO 14, 2022 | ATUALIZADO EM DEZEMBRO 14, 2022
por: Dr. Renato Giaccio - CRM 183.354
Médico prescritor de fitocanabinóides
Antes de falar sobre Cannabis e o corpo humano precisamos entender que nosso organismo possui um sistema denominado Sistema Endocanabinóide, ou seja, além do sistema Nervoso, sistema Imune, sistema Respiratório, podemos contar também com o Endocanabinóide.
Este último é composto por substâncias produzidas pelo nosso organismo, denominadas Anandamida e 2-AG que se ligam em receptores, CB1 e CB2 respectivamente, desencadeando reações no corpo humano com a intenção de manter o equilíbrio interno, ou seja, quando um atleta se lesiona, substâncias internas são liberadas pelo corpo e essas causam um desequilíbrio interno, causando dor, inflamação, incapacitação do órgão e os endocanabinóides buscam organizar esse desequilíbrio, amenizando a dor, reduzindo a inflamação e estabelecendo o equilíbrio dentro do nosso corpo.
Os compostos da planta Cannabis Sativa, CBD, THC, CBG, CBN, entre outras, são substâncias que ativam nossos receptores canabinóides, assim como os nossos endocanabinóides, então, recentemente passaram a ser usados por atletas de forma medicinal visando a melhora em processos inflamatórios e dores comuns na rotina do atleta.
Recentemente a jogadora de futebol Megan Rapinoe (campeã mundial pelos EUA), Bob Burnquist (ex-skatista profissional) e o ex tenista Bruno Soares, do Brasil, defendem o uso medicinal da Cannabis no esporte, inclusive com relatos sobre melhora considerável em dores e inflamações nos últimos anos de suas carreiras esportivas.
As principais ligas americanas inclusive vêm demonstrando apoio ao movimento da Cannabis no esporte. A NBA, por exemplo, não testa mais seus atletas no doping para Cannabis, assim como NFL.
Em 2020, as olimpíadas de Tóquio foi a primeira na história a autorizar o uso do CBD, sendo utilizado por atletas que apresentavam muita ansiedade no período pós pandemia.
Atualmente, quando pesquisamos sobre Cannabis associada a esportes na PUBMED, encontramos 240 artigos, destes os mais recentes mostram eficácia de seu uso nas seguintes comorbidades:
Citaremos a seguir os mecanismos de atuação dos fitocanabinóides presentes na flor da Cannabis em cada um dos problemas acima, bem como as melhores proporções de óleos ou tópicos para serem usados.
Dor Crônica
A busca por melhor performance gera excesso de esforço físico do atleta, consequentemente, sobrecarga articular.
Articulações dos joelhos, ombros e coluna dorsal são extremamente sobrecarregados, principalmente em esportes de contato ou impacto, como maratonas, futebol, tênis.
O impacto gera microtraumas e consequentemente gera dor e desgaste articular com o passar dos anos.
Estudos sugerem o potencial da Cannabis para modulação da dor crônica. Apesar de ainda presente a dor, esta passa a ser mais aceitável, permitindo que o trabalho fisioterápico e a recuperação se tornem mais eficientes e rápidos.
A associação de THC+CBD apresenta boa resposta analgésica.
Inflamação
A inflamação no atleta é comum, seja causada por traumas (batidas), contusões, estiramentos, entorses (torções) ou pelo desgaste de articulações usadas constantemente. Pode ser acompanhada por edema (inchaço) ou não.
É uma resposta comum do organismo, por exemplo, um jogador de futebol que sofre uma torção do tornozelo desenvolver uma reação inflamatória com a intenção de proteger e curar aquele órgão lesado.
No entanto, a inflamação persistente ou excessiva pode levar a dor e lesão tecidual, causando condições crônicas como as demências em lutadores de Boxe que sofrem constantemente traumas em suas cabeças, artrose em joelhos ou nos quadris de maratonistas, além de muitas outras doenças crônicas articulares, na coluna, cotovelos e mãos, dependendo do tipo de esporte realizado.
Um conjunto de mais de 25 estudos em animais (camundongos) avaliou os benefícios do CBD, CBG e THC na inflamação.
Constatou-se que a associação de CBD+CBG e CBD+THC apresenta ótima eficácia na redução dos processos inflamatórios e pode ser um medicamento poderoso no arsenal de medicamentos anti-inflamatórios presentes no mercado.
Nos estudos realizados houve redução de 90% na liberação de citocinas pró inflamatórias (IL-6, IFN gama, TNF alfa), o THC usado isoladamente não apresentou resposta redutora de citocinas pró inflamatórias, porém foi benéfico para reduzir a dor inflamatória.
CBD e CBG mostraram-se mais eficazes quando associados. A dose mais comum utilizada de CBD foi entre 5 e 40 mg, sendo responsável inclusive por reduzir edema da pata traseira induzida experimentalmente em camundongos.
Ansiedade e Insônia
A ansiedade também é um sintoma bem presente na vida de atletas, principalmente em profissionais que buscam sempre o seu melhor e são fortemente cobrados por isso.
A preocupação excessiva pode se tornar prejudicial e uma barreira para a melhora da performance.
O CBD presente na Cannabis é responsável por reduzir cortisol (hormônio do estresse) liberado quando tensão ou ansiedade. Age também em receptores Serotoninérgicos, ativando receptores que a serotonina (hormônio da felicidade) atua.
Atletas ansiosos geralmente apresentam insônia, prejudicando intensamente suas recuperações e preparações para provas e campeonatos.
Alguns fitocanabinóides como THC e CBN possuem propriedades sedativas e podem ser forte aliados na indução e manutenção do sono.
Concussão
A concussão ocorre quando o cérebro sofre um impacto forte, geralmente em traumas (batidas), futebol, futebol americano, boxe. No MMA é comum vermos com frequência. Tal impacto promove pequenas ou grandes inflamações intracranianas que podem lesar neurônios e células ao redor.
Pugilistas, inclusive, apresentam uma doença denominada Demência do Pugilista em razão dos constantes impactos sofridos durante suas atividades. Um pugilista conhecido com tal síndrome é o Maguila, que faz uso de CBD no seu tratamento.
O CBD apresenta propriedades neuroprotetoras e inflamatórias, portanto, tem indicação para uso sendo um forte medicamento no arsenal terapêutico de quem sofre com demências.
Podemos concluir que os fitocanabinóides apresentam evidências cada vez mais claras para o uso nos esportes e em razão disso os estudos devem ser cada vez mais estimulados para que atletas possam ter sempre o que existe de mais moderno e com menos efeitos colaterais como é o tratamento com Cannabis.
O preconceito com uma planta medicinal gera somente atraso e lentidão e isso não combina com evolução do esporte que está sempre em busca de mais velocidade e rapidez.
Referências bibliográficas:
PubMed
Dr. Renato Giaccio é formado em medicina pela Universidade de Mogi das Cruzes. Anestesiologista pelo Hospital Geral de Pirajussara e com certificação internacional em medicina endocanabinoide pela WeCann Academy. Atualmente é pós graduando em medicina canabinóide pela Unileya.
